Este texto de Priscila Citera, publicado no site Brasil Post, é uma leitura com que muitos dos nossos leitores se irão identificar, pois ele faz um apelo sobre a saudade que nos faz viajar a momentos inesquecíveis das nossas vidas no passado.
“No ano 2000, comemorei o Dia da Mãe pela última vez, e desde então, Maio é o pior mês para mim. O aniversário dela era no dia 5, depois vinha o segundo domingo do mês (quando eu digo a todas as minhas amigas que sim, existe uma coisa pior que não ter namorado no dia dos namorados), e no dia 26 de maio ela faleceu.
Há 16 anos que não sou filha da forma que só uma mãe sabe fazer sentir uma filha. Ainda tenho o meu pai, graças a Deus, mas é muito diferente. Não substitui, não ocupa o espaço, não faz diminuir a dor. O colo é diferente, o olhar é diferente, o carinho, a forma de mostrar preocupação ou orgulho, os conselhos e até os sermões são diferentes.
No mês de Maio dói mais, muito mais, mas eu sinto falta dela em situações tão diferentes, que é quase uma presença. Sinto falta dela quando me canso de ser adulta e uma mulher forte e só quero colo. Sinto falta do sorriso e do abraço dela quando estou feliz e as coisas estão bem. Ela sorria tanto e era tão bem-humorada, que mesmo tendo lutado 10 anos contra o cancro, eu só consigo lembrar-me dela a sorrir. E como era um sorriso lindo!
Nesses 16 anos, eu lamentei não a ter por perto nos momentos felizes e nos mais tristes que eu vivi. Na minha formatura da faculdade, eu estava com o cordãozinho de ouro com o nome dela, e a minha avó chorou à minha frente pela primeira vez quando viu.
Quando casei, usei a parte de cima do meu vestido de 15 anos, que ela tinha feito, para ela estar presente ali também. Quando dei uma entrevista aqui, falei sobre ela ter sido a minha inspiração e maior motivação na moda.
Mas é nas pequenas coisas que eu me lembro dela e a homenageio, como neste texto. E sinto-me feliz, grata e honrada por tantas pessoas acharem tantas semelhanças em nós as duas. Desde a forma de andar ao humor. Do tempero da minha comida à forma como mexo no cabelo.
Desde 2000 que não comemoro um Dia da Mãe, e como não quero ter filhos, essa data nunca vai ter outro significado para mim.
Sempre que algum amigo meu perde a mãe, eu tenho vontade de lhe dizer que essa dor vai passar ou diminuir com o tempo, assim como queria dizer-lhe isto a si que está a ser este texto agora, mas infelizmente não posso. Os anos amenizam, mas não curam essa dor. Há dias em que eu paro para pensar na quantidade de coisas que já vivi e ela não viu e parece que já passou bem mais de 16 anos desde que ela partiu. Noutros dias, dói tanto que parece que ela partiu ontem.
Mas se há uma coisa que eu digo sempre aos meus amigos, e que preciso de lhe dizer a si agora é: aproveite muito a sua mãe enquanto a tem. Dê-lhe valor, carinho e amor. A minha mãe já discutiu muito comigo, e até disso eu sinto falta, e você vai sentir também. Vai sentir falta de ter mãe, vai sentir falta de ser filha.”
Adaptado de: texto de Priscila Citera via 50 e mais.