A emocionada e emocionante carta de Éder a Fernando Santos

Eder, o herói do último Campeonato Europeu de futebol realizado em França em 2016, ficou de fora do lote de convocados do selecionador nacional Fernando Santos. O jogador da seleção portuguesa escreveu uma emocionante carta a Fernando Santos. Leia o seu conteúdo:

“Caríssimo mister


É de coração apertado que lhe escrevo neste mesmo instante. Um instante que já vai longo. Um instante em que já passaram algumas horas. Horas em que relembrei muitos dos momentos vividos faz daqui a pouco tempo dois anos. Em que relembrei os dias inesquecíveis vividos naquele “nosso lar” onde fizemos das fraquezas forças e desenhámos a mais bela de todas as pinturas já realizadas pelo Futebol Português.

Não, não vou ao Mundial 2018! A tristeza invade-me. O vazio por instantes sobressalta-me.Se é verdade que tenho sentido que seria o mais previsível, não deixei nunca de acreditar que o meu nome poderia fazer parte dos selecionados. Infelizmente não. Infelizmente não vou viver mais uma epopeia que acreditava, e continuo a acreditar, se poderia tornar épica.

Bem sei que ano após ano despontam jovens de grande valor no nosso futebol. Que a minha época não foi tudo aquilo que esperava. De qualquer forma, sempre senti que a minha presença poderia ser benéfica a todo o grupo, não só pelo simbolismo (e nem eu queria que fosse somente por esse motivo), mas também pelo que poderia oferecer de diferente à nossa selecção.

Sonhei. Sonhei que a história se poderia repetir. Bem sei que diz o ditado que isso não acontece. Não há duas histórias iguais. Mas a verdade é que, mesmo não sendo aquilo que muitos desejavam que eu fosse, mesmo não sendo o primor técnico que os demais muitas vezes cobram, sinto e acredito que tenho algo de especial. Que estou talhado para os momentos mais solenes. Depois do 10 de Julho de 2016, do 5 de Maio de 2018, acreditei num 15 de Julho de 2018. Quis o destino que nunca estarei presente fisicamente num eventual jogo pelo título mundial no qual desejo que estejamos presentes. Mas estarei presente em espírito.

Mesmo não fazendo parte dos 23, sinto-me, ainda assim, parte integrante deste grupo. Talvez sejamos 40 e não 23. Os 40 que o mister costuma sempre referir. Sei que estarei nas botas do Gonçalo. Tal como o Semedo estará nas subidas do Ricardo ou o Ruben na visão periférica do Manuel Fernandes. Sei que o Neto estará em cada antecipação do Ruben e o Nani estará em casa desconcertante drible do Gelson.

É este sentimento de partilha, de união, de descontentamento contente, de orgulho pelos outros, mesmo que isso implique a nossa “menor felicidade”, que nos levou a alcançar o que atingimos, e que acredito nos poderá levar de novo ao alcançar de um sol brilhante, mesmo que numa Moscovo obscura. Porque esta selecção é muito mais que um mero grupo de 23 rapazes que de vez em quando se juntam para representar o seu pais. Esta selecção é a selecção da partilha, do companheirismo, do fazermos das incertezas de cada membro do balneário as nossas mesmas dificuldades. E esse foi e será sempre o maior mérito do mister, e também aquilo que mais me faz “sofrer” por não vos acompanhar.

Não quero abusar do seu tempo. Quero somente desejar que nas próximas semanas o seu tempo seja curto para ler emails, e que o meu seja longo e emocionante. Será sinal que este país estará a demonstrar toda a nossa qualidade nessa longínqua e sonhada nação Russa.

Um abraço para si e para cada um que consigo partirão nessa viagem onde o céu é o limite.

Éder”