Segundo um relatório do OverSeas Development Institute (ODI), o número de crianças com menos de 14 anos que deixaram a escola para trabalhar a tempo inteiro no Bangladesh é verdadeiramente preocupante.
Foram estudados quase 3000 agregados familiares pobres dos bairros de Dhaka, e descobriu-se que crianças com apenas 6 anos já tinham emprego a tempo inteiro. Em média, estas crianças trabalham 64 horas por semana, mas algumas chegam a trabalhar 110, recebendo menos de 2€ por dia.
“A prevalência do trabalho infantil no Bangladesh é preocupante”, disse Maria Quattri, uma das autoras do estudo.
Foi apurado que dois terços das raparigas trabalham na indústria do vestuário, enquanto os rapazes têm uma maior variedade de trabalhos. Alguns trabalham nas obras e no fabrico de tijolos, outros em lojas e venda de produtos na rua, e 13% trabalha também na indústria têxtil.
“Estão a trabalhar principalmente para subempreiteiros em fábricas de vestuário informais que produzem uma parte do produto que é depois vendido a empresas formais, e estas empresas exportam o produto”, explica Quattri.
O estudo revelou que 36,1% dos rapazes e 34,6% das raparigas admitem sentir fadiga extrema, dores nas costas, febre e feridas superficiais.
Amina (nome falso para fins de proteção de identidade) tem apenas 14 anos e só tem o 4º ano da escola primário. Há três anos, quando o pai adoeceu, Amina começou a trabalhar para ajudar a pagar as despesas médicas. Atualmente, trabalha 12 horas por dia, com apenas duas pausas curtas em serviços domésticos. “Perdi muito por não ir à escola. Mas a minha família é pobre e o meu pai está doente”, diz Amina, que recebe apenas 30€ por mês.
Apesar de a idade mínima de admissão para trabalhar no Bangladesh seja de 14 anos, as crianças com 12 ou 13 anos podem fazer “trabalhos leves”, com um limite de 42 horas por semana.
Esse tipo de trabalho não está devidamente definido, mas exclui trabalho em caminhos-de-ferro, portos ou fábricas e turnos da noite. Contudo, muitas vezes as leis são ignoradas muitas vezes, pois não há inspetores de trabalho.
O relatório do ODI estima ainda que vão haver milhões de crianças com menos de 14 anos a trabalhar no Bangladesh, que tem 150 milhões de habitantes.
Supostamente, o país progrediu nos últimos anos, conseguindo que a taxa de pobreza passasse de 50% da população para um terço, mas a verdade é que ainda há milhões de cidadãos a viver em favelas.
Apenas a escola primária é gratuita e obrigatória, e muitas famílias pobres dizem ter colocado os filhos no mercado do trabalho e não na escola por causa do valor das propinas.
A equipa de investigação descobriu que maior parte das crianças que trabalham não conseguem ler uma frase tão simples como “a menina está a brincar”.
“O trabalho infantil representa um sintoma da pobreza e uma causa da privação educacional. Transmite a pobreza pelas gerações, aprisiona as crianças num ciclo de pobreza e compromete o crescimento económico nacional. O que o nosso estudo descobriu em Dhaka é um microcosmo de um problema global que devia estar no centro da agenda internacional”, defende Kevin Watkins, coautor do estudo.
Infelizmente, é considerado praticamente impossível que as crianças que se vêm forçadas a trocar a escola por um trabalho mal pago consigam as qualificações que lhes permitiram quebrar o ciclo da pobreza entre as gerações.
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